🇧🇷 BCR Institucional - Julho de 2022
Mercados de cripto em marasmo, mas o impulso das adesões continua
Fala pessoal!
Bem-vindos à primeira edição do 🇧🇷BCR Institucional. O objetivo desta publicação é fornecer, mensalmente, um resumo abrangente e de alto nível da situação dos mercados de cripto – tanto dentro como fora do Brasil.
📈Visão geral do mercado
Não há como negar, este verão está difícil para os mercados de cripto
Macro fatores contínuos e o aumento das taxas do Banco Central seguem impactando a liquidez dos mercados de cripto e outros ativos de risco. A desalavancagem significativa que vem ocorrendo no setor e a queda de vários fundos (Three Arrows Capital) e gestores de ativos/pseudobancos de destaque (Celsius e Voyager) vêm causando marasmo no mercado, falências e temor renovado de uma repressão regulatória.
Para piorar, ondas de demissões estão inundando o espaço cripto, com titãs da indústria – como Coinbase, Gemini, BlockFi, Crypto.com e outros – dispensando funcionários para cortar custos. A 2TM (controladora do Mercado Bitcoin) e a Bitso, ambas com atuação no mercado brasileiro, também andaram demitindo funcionários.
Mas a boa notícia é que, apesar de julho ainda ter sido um mês difícil para todos, foi melhor do que junho
O Bitcoin, a maior criptomoeda por valor de mercado, ultrapassou o valor de US$ 24.000 em 20 de julho, após chegar a custar menos que US$ 18.000 em junho.
O Ether, o token nativo da blockchain Ethereum e segundo maior em valor de mercado, encerrou o mês oscilando em torno de US$ 1.500, após chegar a menos de US$ 1.000 em junho. A recuperação é atribuída ao sentimento positivo em torno da “Fusão”, que foi anunciada provisoriamente para 19 de setembro (leia mais sobre isso abaixo).
Ainda assim, tem sido uma queda lenta e constante desde os recordes de novembro
O Bitcoin e o Ether caíram cerca de 70% em relação aos seus respectivos recordes históricos de ~US$ 68.000 e ~US$4.800, que foram eclipsados em novembro de 2021.
Mas nem todas as notícias são ruins. Apesar da recente “hemorragia”, há sinais de que o pior já passou.
Analistas do JPMorgan publicaram um relatório afirmando que o pior já passou e os temores de contágio atingiram seu pico. “A fase extrema de retrocesso observada em maio e junho, a mais extrema desde 2018, parece ter ficado para trás”, escreveu o JPMorgan.
O Citi produziu um relatório semelhante, argumentando que a “fase aguda de desalavancagem” passou, as saídas de stablecoin das exchanges desaceleraram e as saídas de ETFs de criptomoedas também se estabilizaram.
A quantidade de Bitcoin acumulada por “detentores de longo prazo” (definidos pela Glassnode como detentores há pelo menos cinco meses) está se mantendo estável em torno de 72%. Esses geralmente são considerados “hodlers”, que pretendem manter suas moedas em longo prazo e não desejam vender tão cedo. Isso significa que apenas 28% da oferta atual de Bitcoins está disponível, em teoria, para ser negociada ou comprada por novos interessados. Ou seja, o preço pode subir rapidamente se houver um aumento na demanda.
Os gigantes financeiros franceses BNP Paribas e Société Générale assinaramacordos com os custodiantes de ativos digitais Fireblocks e Metaco.
Globalmente, as entradas líquidas em produtos de investimento em ativos digitais em julho (até o dia 25) foram de US$ 394 milhões, de acordo com a CoinShares, incluindo US$ 343 milhões em uma só semana.
A Tesla, a montadora comandada pelo “super-herói que virou vilão” das criptomoedas Elon Musk, divulgou que vendeu US$ 936 milhões em Bitcoin durante o segundo trimestre, em uma tentativa de robustecer sua posição de caixa. Alguns observadores consideram que foi uma ação baixista, uma vez que a Tesla foi uma das primeiras grandes empresas a colocar Bitcoin em seu balanço patrimonial; outros veem como uma ação altista, pois permite um distanciamento de Elon Musk.
O Point72 Asset Management, o hedge fund administrado pelo financista bilionário e dono do time de beisebol New York Mets Steve Cohen, está ampliando a contratação de especialistas em blockchain e ativos digitais.
☠️ Os avanços regulatórios e as ações de fiscalização nos EUA aumentaram, causando uma forte incerteza no mercado
As partes interessadas do setor continuam frustradas com a falta de orientação regulatória e clareza nos Estados Unidos, especialmente por parte da Comissão de Valores Mobiliários (Securities and Exchange Commission - SEC) – que optou por seguir um caminho de “regulamentação por imposição”. Outro membro do Congresso, desta vez o senador republicano Pat Toomey, condenou publicamente a SEC por não apresentar orientações que poderiam ter ajudado a evitar o colapso do mercado.
A tensão ocorre em meio a uma disputa cada vez mais pública entre a SEC e a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (Commodity Futures Trading Commission) pela jurisdição de criptoativos.
Um ex-funcionário da Coinbase foi preso e acusado de uso de informações privilegiadas por ter, supostamente, praticado front-running de tokens antes de serem disponibilizados ao público.
A Coinbase também está sendo investigada pela SEC por supostamente permitir que cidadãos dos EUA negociem títulos não registrados em sua plataforma. Por sua vez, a Coinbase tem sido uma das principais críticas da SEC, afirmando que a reguladora não forneceu a orientação necessária para diferenciar quais tipos de tokens são títulos e quais são commodities.
A Kraken, uma das maiores exchanges dos EUA, está sob investigação do Tesouro dos EUA por supostamente atender clientes iranianos, em violação às sanções.
O Tesouro dos EUA apresentou uma nova “estrutura” para a regulamentação internacional de criptomoedas, em resposta à ordem executiva do presidente Joe Biden sobre criptoativos no início deste ano.
Destaques do Mercado Brasileiro
O espaço brasileiro de gerenciamento de criptoativos continua amadurecendo e – em alguns casos – superando expectativas.
A gestora de criptoativos brasileira Hashdex viu entradas de US$ 117,9 milhões (R$ 620 milhões) em seus ETFs de criptomoedas e produtos de índice no primeiro semestre de 2022, segundo dados da Bloomberg. Esse número coloca a empresa em primeiro lugar no mundo, à frente da 21Shares, Seba Bank, Van Eck e Wisdom Tree.
O ETF de Bitcoin QBTC11, da QR Asset Management, ultrapassou o total de 1.000 Bitcoins sob custódia.
A Anbima, grupo comercial que representa empresas do mercado financeiro e de capital no Brasil, anunciou uma frente de autorregulação para fundos de criptomoedas com o objetivo de proteger os investidores de varejo. A previsão de início é para o segundo semestre de 2022.
A disputa por investidores de varejo no Brasil entre exchanges, fintechs e outros prestadores de serviços está esquentando.
A XP Investimentos abriu pré-cadastro para seu serviço de investimento em criptomoedas Xtage.
O Nubank atingiu um milhão de clientes de criptomoedas em sua plataforma.
O BTG Pactual lançou a Mynt, uma corretora de criptomoedas focada no varejo.
A partir de agosto o PicPay abrirá a negociação de criptomoedas para seus 30 milhões de usuários ativos. A fintech também pretende criar sua própria stablecoin atrelada ao real brasileiro.
A 99Pay, que antes oferecia apenas Bitcoin, disponibilizou várias novas moedas para seus 30 milhões de clientes.
O Mercado Pago agora permite que os usuários comprem e depositem Bitcoin, Ethereum e Pax Dollar (uma stablecoin atrelada ao dólar americano) a partir de carteiras externas, embora o saque dos ativos permaneça indisponível.
Os bancos brasileiros, antes firmemente anticripto, estão passando a aderir a essa nova classe de ativos digitais.
O Itaú Unibanco anunciou planos de lançar uma divisão de tokenização de ativos que transformará produtos financeiros em tokens digitais com segurança criptográfica. Esse produto de “tokenização como serviço” facilitará a emissão, distribuição e custódia de criptoativos. O produto será disponibilizado primeiro para clientes institucionais e depois para o varejo.
O Santander Brasil anunciou que planeja disponibilizar a compra de criptomoedas para seus clientes ainda este ano.
Legislação que criaria marco regulatório para criptomoedas no Brasil está parada na Câmara dos Deputados
O Marco Cripto foi aprovado pela Câmara dos Deputados em dezembro passado e pelo Senado em abril. A ideia era criar uma estrutura operacional básica para a negociação de criptomoedas no mercado brasileiro, reprimir esquemas de pirâmide de criptomoedas e nomear um regulador federal para supervisionar o setor (presume-se que seria o Banco Central do Brasil).
Entretanto, o texto aprovado pelo Senado incluiu vários pontos polêmicos, como a segregação obrigatória de ativos dos clientes e das empresas e o prazo para as exchanges estrangeiras registrarem um CNPJ local e começarem a enviar relatórios de combate à lavagem de dinheiro ao COAF.
Agora a Câmara dos Deputados deve aprovar uma versão final do projeto para que então ele possa ser sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro. O deputado Expedito Netto, relator do projeto na Câmara, rejeitou as mudanças incluídas no Senado, o que desencadeou uma acirrada disputa de lobby entre as bolsas locais (lideradas pela 2TM/Mercado Bitcoin), que estão tentando usar o processo legislativo para se proteger da concorrência estrangeira, e exchanges estrangeiras (lideradas pela Binance), que veem o Brasil como um mercado de crescimento importante.
O projeto estava na pauta da Câmara, mas a sessão legislativa terminou e entrou em recesso antes que ele pudesse ser levado ao plenário e aprovado. Embora seja possível que o projeto de lei seja votado em agosto, é mais provável que isso ocorra apenas após as eleições de outubro.
Em geral, os defensores e observadores da indústria acreditam que a legislação servirá para legitimar a indústria de criptomoedas no Brasil, embora haja uma preocupação de que ela acabe por favorecer grandes empresas, prejudicando as pequenas e aventureiras startups.
O mercado brasileiro segue ganhando cada vez mais a atenção de observadores externos
Sam Bankman-Fried, o jovem bilionário de criptomoedas (com apenas 30 anos) e CEO da exchange FTX, está de olho no Brasil e no mercado latino.
A Accenture afirmou, em novo relatório, que o Brasil deverá se tornar uma potência financeira descentralizada devido à adoção de outras iniciativas de disrupção tecnológica do sistema financeiro tradicional, como Pix, Open Finance e o Real Digital.
O Brasil tem o segundo maior número de usuários de aplicativos DeFi do mundo, de acordo com uma pesquisa divulgada pela carteira de navegador Metamask, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Entendendo mais: a Fusão
A “Fusão” é a tão esperada transição do Ethereum de um protocolo de consenso Proof-of-Work (PoW) para Proof-of-Stake (Pos). É a atualização mais importante e complexa da blockchain desde seu lançamento em 2015, e um evento que vem sendo debatido pelo fundador Vitalik Buterin e outros desenvolvedores originais desde antes do lançamento da rede principal do Ethereum.
A mudança para PoS alterará os meios pelos quais as transações são validadas e os blocos são produzidos, o que trará vários benefícios para o ecossistema Ethereum e para o próprio ETH:
A expectativa é de que o consumo de eletricidade da rede caia 99,9%
A oferta de ETH se tornará deflacionária e se contrairá em vez de crescer anualmente devido à emissão reduzida e maior “queima” (retirada de circulação) de ETH. A Galaxy Digital espera que o fornecimento contraia cerca de 0,77% ao ano, embora a taxa de queima de tokens esteja diretamente relacionada à quantidade de atividade na rede Ethereum. Conforme a adesão continuar a crescer, a pressão deflacionária sobre a oferta de ETH também aumentará
A Fusão não afetará a forma como as transações e aplicativos descentralizados são executados ou utilizados; a mudança será mais sentida pelas entidades que interagem com a camada de consenso da blockchain.
A expectativa é de que a fusão dobre os ganhos dos validadores de rede.
Recomendação de leitura
💡 Se você puder ler apenas uma coisa esta semana, recomendo esta entrevistada Bloomberg (coescrita pelo meu ex-colega Muyao Shen) com Su Zhu e Kyle Davis, os fundadores da Three Arrows Capital. A 3AC era um hedge fund de criptomoedas que implodiu espetacularmente em junho e quase derrubou todo o mercado de criptomoedas junto.
A 3AC atualmente é uma confusão falida, com credores alegando ter mais de US$ 2,8 bilhões em dívidas, e Davies e Zhu se escondendo. Essa entrevista é a primeira vez que eles se pronunciam publicamente desde a implosão da 3AC.
Davies e Zhu, ex-operadores do Credit Suisse, até recentemente eram admirados pela indústria por sua abordagem hiper-altista e uso turbinado de alavancagem. Agora eles se tornaram vilões, aparentemente da noite para o dia, e carregam uma parcela significativa da culpa pelo colapso do mercado de criptomoedas.
“Nos posicionamos para um tipo de mercado que acabou não acontecendo”, disse Zhu. “Foi como um momento LTCM para nós, como um momento de Capital de Longo Prazo”, afirmou Zhu. “Tínhamos diferentes tipos de negócios que todos achávamos bons, e outras pessoas também tinham esses negócios... E eles meio que caíram muito, muito depressa.”
“Nós acreditávamos em tudo, completamente”, acrescentou Davies. “Todos os nossos – quase todos os nossos – ativos estavam lá. Então, nos tempos bons, nós ganhamos muito. E nos maus, fomos os que mais perdemos.”
Davis e Zhu não parecem muito arrependidos da bagunça que ajudaram a causar; eles argumentam que eram apenas um dos jogadores em um mercado que estava superaquecido, superalavancado e precisava voltar a colocar os pés no chão de alguma forma.
Com certeza haverá, algum dia, livros e séries da Netflix sobre a 3AC e seus fundadores. Mas até lá, você pode dar uma espiada nesse drama por meio dessa entrevista.